Rede
Em busca do sinal perfeito
Em tempos de tecnologia 5G, pelotenses ainda convivem com falhas na cobertura das operadoras de celular
Jô Folha -
Na era do 5G, o que para Pelotas está previsto somente para 2026, de acordo com o cronograma da Agência Nacional das Telecomunicações (Anatel), muitos pelotense ainda estão em busca de qualquer sinal que permita uma comunicação viável. Em localidades como a Colônia de Pescadores Z-3, Vila Corrientes, ou até mesmo dentro da Guabiroba, no bairro Fragata, é comum ver os usuários de telefonia móvel deslocarem-se para a rua, ou a um lugar mais alto, para tentar fazer ligações. Em todos os cantos, as reclamações são as mesmas: o sinal é muito ruim. Pelas normas existentes no Edital 4G, cada operadora deve oferecer no mínimo 80% de cobertura do sinal na área urbana da cidade. Como as normas são cumpridas, o jeito é contar com a sorte.
Nos municípios onde a oferta da operadora é decorrente de seu próprio interesse, não há compromisso de cobertura mínima. Talvez por isso a Claro tenha apenas 20,06% de área coberta na Z-3, a Tim, 10,46%, e a Vivo, 82,42%. Esses percentuais aumentam conforme a tecnologia disponível - como a 3G e 2G. A monitora escolar Geize Bel de Oliveira, 35, usa o sinal da TIM e o considera péssimo. "Pega em lugares específicos, preferencialmente em locais mais altos, como sobre o armário da cozinha. Quando pede [a operadora] para colocar crédito, eu não sei o porquê. Os dados móveis nunca funcionam", reclamou. A aposentada Maria Geneci Torres, 60, disse que seu filho já ficou com o veículo atolado e não conseguiu se comunicar para pedir o resgate. "Cogitaram a instalação de uma torre, mas até hoje nada", disparou a cliente também da Tim.
Em um grupo de mulheres que aguardava por atendimento no Posto de Saúde, o comentário era que o sinal da Oi (que no local foi arrematado pela Tim) também é bem fraco, e que os demais, Claro e Vivo, não pegam - fato constatado nos celulares da reportagem. A servente Rosane Doro de Oliveira, 53, diz que a solução é ir até a igreja para usar o celular, por ser uma área mais aberta e alta.
Distante 32,3 quilômetros da colônia dos pescadores, a vila Corrientes enfrenta a mesma situação. A servente da Unidade Básica de Saúde local estava tentando se comunicar, pelo sinal da Tim, na frente do prédio, às margens da BR-116. Já no interior da vila, a diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Coronel Alberto Rosa, Vera Terezinha Beduhn, 47, utiliza um chip da Oi e para ter sinal precisa sair da sala até completar a ligação. "Uma vez precisei fazer contato urgente com um pai de aluno e nada de sinal. Peguei o carro e fui mais adiante, em um local mais alto, até conseguir falar com a pessoa", revelou. Para sorte da comunidade, a internet na escola é da Ruralnet.
Pelo Centro
Em área urbana, a situação não é tão grave, mas, por vezes, clientes também ficam empenhados. O motorista de aplicativo Reinaldo Goularte, 50, conta que seguidamente precisa reiniciar o celular. "Eu estou andando e de repente buga tudo. Já precisei desligar e ligar o aparelho três vezes por causa do sinal", disse. Ele preferiu não citar a operadora. Já a servidora pública aposentada Zaira Abreu, 61, é moradora da Guabiroba, no bairro Fragata. Ela tem um chip da Vivo e seguidamente vai até a janela do apartamento para conseguir sinal e, assim, se comunicar.
Fiscalização
De acordo com a Anatel, as obrigações de cobertura decorrentes dos Editais de Licitação são feitas por meio de fiscalizações. Além disso, conforme determina o artigo 11 do Regulamento de Gestão da Qualidade da Prestação do Serviço Móvel Pessoal, os consumidores devem ser informados sobre a cobertura existente nos municípios, que podem ser acessadas nas páginas das próprias prestadoras (Claro, Tim, Oi e Vivo) na internet. Além disso, a Agência dispõe de um painel de dados para acompanhamento da cobertura da telefonia móvel nos municípios (confira quadro). "Os mapas, no entanto, representam uma demonstração teórica de presença de sinal, baseada em cálculos previstos. Isto porque a cobertura efetiva depende de fatores como relevo, construções, localização do usuário, tipo de ambiente (aberto ou dentro de construções e a depender da natureza dessas construções), altura do usuário em relação ao solo, entre outros", explicou a Anatel, por meio de nota.
A Agência lembra ainda que a cobertura em ambientes confinados é fortemente influenciada pelas características construtivas das edificações, e, por tal razão, não existe uma obrigação específica de oferta de cobertura indoor imposta às prestadoras, caracterizando-se como uma limitação física do próprio serviço. É o caso de um comércio na Guabiroba. A proprietária, que não quis se identificar, disse à reportagem que dentro de seu comércio não há sinal de nenhuma operadora. "Acho que é por causa da laje", apostou.
Futuro
A prefeitura de Pelotas adianta que não é de responsabilidade do Executivo cobrar melhorias no sinal de telefonia móvel, apesar de haver serviços públicos prejudicados quando o sinal apresenta instabilidade ou baixa intensidade. Por isso - e com vistas que a população de Pelotas possa ter acesso a serviços de internet e telefonia de melhor qualidade, além de maior cobertura de sinal - foi protocolado na Câmara de Vereadores o Projeto de Lei que dispõe sobre normas urbanísticas específicas para a instalação e o licenciamento de infraestruturas de suporte para Estações Transmissoras de Radiocomunicação (ETR), autorizadas e homologadas pela Anatel, nos termos da legislação federal vigente, como forma de preparar a cidade para receber a tecnologia 5G. No documento é citado ainda que as operadoras dos serviços assumiram compromissos de priorizar os investimentos para os municípios que estiverem alinhados à legislação (Lei das Antenas).
O que dizem as operadoras
Tim
A Tim admite que não possui uma boa cobertura na Colônia Z-3, onde sua operadora é a mais usada pelos moradores. Entretanto, há atendimento da Oi com as tecnologias 2G e 3G. A operadora salienta que, quando houver a absorção de sites desta pela Tim, clientes também terão rede liberada nesta região. A previsão é que essa absorção seja finalizada até dezembro. Com a tecnologia 4G, a operadora conta com 28 antenas. "Com a compra dos ativos da Oi Móvel, o Rio Grande do Sul é uma das principais praças onde a Tim receberá esses usuários, com a chegada de mais de 300 mil clientes Oi, passando de 11,9% para 39,6% sua participação de mercado na região", indicou. Sobre a chegada da tecnologia 5G ao Estado, a Tim esclarece que a implantação depende de cronograma estabelecido pela Anatel.
Oi
A Oi vendeu sua unidade de telefonia móvel para um consórcio formado por outras operadoras (Vivo, Tim e Claro). O processo de migração dos clientes já começou e deve se estender ao longo do ano. A Oi também não participou do leilão de 5G.
Claro
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Vivo
A operadora Vivo informou que tem cobertura 4G em todos os seus sites em operação no município de Pelotas. A empresa iniciou, no último dia 6 de julho, a ativação da sua rede 5G na faixa de 3,5GHz em Brasília, de acordo com o cronograma e diretrizes do Grupo de Acompanhamento da Implantação das Soluções para os Problemas de Interferência (Gaispi), responsável pela liberação de uso desta frequência, e da Anatel, e está pronta para ativar nas demais capitais, assim que o espectro for liberado em cada uma delas. Essa faixa aumenta a potência e a cobertura do 5G da Vivo. Além disso, a operadora conta com um dos maiores backbones do país, um diferencial para a conexão das antenas 5G que devem estar conectadas por uma rede de transmissão de alta capacidade e qualidade. Toda essa infraestrutura permitirá que a rede da Vivo tenha velocidades similares ao tráfego registrado em acessos fixos de fibra.
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